Um Manifesto Contra o Proselitismo Cristão nas Reuniões Públicas em Antônio Pereira
- Jorge Guerra Pires
- Feb 7
- 4 min read

Usar ‘Nossa Senhora’ em um contexto geral não apenas desconsidera ateus, agnósticos e aqueles sem religião, mas também ofende evangélicos e qualquer pessoa que não idolatre essa figura específica do catolicismo. Pressupor essa devoção como universal ignora a diversidade de crenças e descrenças.
No dia 6 de fevereiro de 2025, às 7:00, ocorreu na Praça do Arregão uma reunião organizada pelo Guaicuy, uma instituição de assessoria independente que tem desempenhado um papel essencial na região. O principal tema discutido foi a decisão da Vale de não renovar o contrato com a instituição, colocando em risco o acesso da população de Antônio Pereira a um suporte independente. Considero fundamental que essa assessoria continue seu trabalho, pois oferece apoio jurídico, organiza encontros com o Ministério Público e auxilia a comunidade em questões burocráticas. Registrei meu apoio publicamente e peço que todos assinem a petição (o link estará na descrição), independentemente de divergências pessoais com o Guaicuy.
Contudo, o que me incomodou profundamente nessa e em outras reuniões foi a insistente presença do proselitismo cristão. Essa prática tem se tornado recorrente, inclusive em encontros oficiais com a Vale, como o ocorrido na Escola Estadual Professora Daura de Carvalho Neto, onde, para minha surpresa, rezas foram realizadas. Fiquei sem reação no momento, mas o padrão de inserir elementos religiosos em eventos públicos não pode ser ignorado.
Há um problema sério na forma como Antônio Pereira tem sido representado. Durante a reunião, um mosaico foi apresentado como um retrato da comunidade, e nele predominavam elementos religiosos, como a imagem de Nossa Senhora da Lapa. Isso levanta uma questão essencial: a Santa realmente representa Antônio Pereira? Ou estamos simplesmente perpetuando uma narrativa que exclui outros grupos?
O catolicismo, historicamente, impôs sua presença no Brasil por meio de conversões forçadas e perseguição de povos indígenas. A própria Igreja Católica já pediu desculpas formais por esse passado, embora ainda tente minimizar os danos causados. Portanto, incluir imagens de santos ao lado de representações indígenas em um mesmo mural é, no mínimo, contraditório.
A insistência em manter Antônio Pereira atrelado a um passado religioso é uma tentativa de prender a comunidade a um estereótipo de sofrimento, reforçando a ideia de um povo que precisa de fé para suportar dificuldades. Essa representação é um desserviço ao futuro da região, ignorando sua juventude e seu potencial de desenvolvimento. Nos países mais avançados, a religião tem perdido espaço, dando lugar a uma sociedade mais racional e secular.
Outro ponto que chamou minha atenção foi a forma como as reuniões públicas e registros fotográficos têm sido conduzidos. As imagens divulgadas retratam majoritariamente idosos, como se apenas essa faixa etária estivesse envolvida nas questões comunitárias. Isso reforça um marketing de sofrimento e descarta a participação da juventude, que também tem voz e deve ser considerada na representação de Antônio Pereira.
Segundo uma pesquisa que realizei, cerca de 20% dos moradores de Antônio Pereira se declaram sem religião. Ou seja, a cada 10 pessoas, 2 não se identificam com qualquer crença religiosa. Ainda assim, o catolicismo é promovido nesses eventos como se fosse a fé predominante, violando o direito de representação de uma parte significativa da comunidade. Além disso, mesmo entre os cristãos, o catolicismo não é mais hegemônico: cerca de 30 a 40% dos moradores são católicos, o que significa que esse grupo não representa a maioria absoluta.
O espaço público deve ser um ambiente neutro, livre de imposições religiosas. Isso não significa que os indivíduos não possam ter sua própria fé, mas sim que eventos destinados a toda a população devem ser inclusivos. Quando a religião é utilizada nesses encontros, cria-se a falsa impressão de que todos compartilham da mesma crença, o que está longe de ser verdade.
Minha crítica tem dois focos principais: primeiro, a insistência em usar eventos públicos para promover a religião, especialmente o catolicismo, que historicamente detém uma posição dominante; segundo, a forma como a comunidade tem sido retratada de maneira limitada, reforçando a ideia de um povo sofrido e religioso, quando Antônio Pereira tem muito mais a oferecer.
A festa de Nossa Senhora da Lapa já não tem a mesma adesão de antes, e a frequência às igrejas tem diminuído. Isso demonstra que as coisas estão mudando. Precisamos discutir abertamente a representatividade da região e garantir que espaços públicos sejam verdadeiramente democráticos e pluralistas. Chegou o momento de repensar a presença da religião nos encontros públicos e permitir que Antônio Pereira avance para um futuro mais justo e inclusivo.
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Jorge Guerra Pires é autor dos livros sobre política e inteligência artificial: "Desinformação, infodemia, discurso de ódio, e fake news", "Inteligência Artificial e Democracia", e "Ciência para não cientistas".
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