Por que vereadores não deveriam usar religião em público em um Estado laico
- Jorge Guerra Pires
- Feb 7
- 2 min read

Recentemente, um vereador da região utilizou uma passagem bíblica para justificar sua postura diante de problemas da cidade. Ao citar Eclesiastes 3:1 – "Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu" –, ele deu a entender que os acontecimentos estão sob controle divino, como se a administração pública estivesse isenta de responsabilidade. Esse tipo de postura é um grave equívoco e vai contra os princípios de um Estado laico.
Estado laico e o dever dos representantes públicos
O Brasil é, constitucionalmente, um Estado laico. Isso significa que o governo não deve favorecer, endossar ou basear suas decisões em dogmas religiosos. Quando um vereador usa religião para justificar omissões ou falhas na administração, ele não apenas abdica de seu dever político, mas também impõe suas crenças pessoais à coletividade. Um gestor público deve trabalhar com base em evidências, planejamento e políticas eficazes, não em doutrinas religiosas.
A religião como escudo para a inércia
Quando um representante eleito diz que tudo ocorre porque "Deus quer", ele desvia a responsabilidade de seus atos. Problemas como infraestrutura precária, educação deficiente e saúde sucateada não são eventos místicos ou inevitáveis – são consequência de decisões políticas e da administração pública. Jogar a responsabilidade no campo da fé é uma forma conveniente de escapar do dever de governar com competência.
O impacto do discurso religioso na democracia
O uso da religião no discurso político cria uma falsa ideia de que a fé pode substituir políticas públicas eficazes. Além disso, exclui cidadãos que não compartilham da mesma crença, alienando parte da população. Um vereador representa todos, independentemente de suas convicções religiosas, e deve agir com neutralidade religiosa para garantir que as políticas públicas sejam inclusivas.
O que fazer diante dessa postura?
Cidadãos precisam cobrar uma postura laica de seus representantes. Sempre que um político utilizar a religião como justificativa para suas ações ou omissões, é essencial questioná-lo sobre as soluções concretas que está propondo. Além disso, deve-se lembrar que cargos públicos existem para servir a todos, e não apenas a um grupo religioso.
O Estado laico é uma conquista democrática. Permitir que políticos usem a fé como escudo para a incompetência ou a omissão é um retrocesso que precisamos evitar.
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Jorge Guerra Pires é autor dos livros sobre política e inteligência artificial: "Desinformação, infodemia, discurso de ódio, e fake news", "Inteligência Artificial e Democracia", e "Ciência para não cientistas".
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